Confira a entrevista do presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia, Dr. Gustavo Nader Marta. Ele fala sobre a radioterapia em geral e sua importância no tratamento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço nos diversos estágios da doença.
Qual é a importância da criação de uma data específica para celebrar o Dia do Radioterapeuta?
A criação de um dia específico para celebrar o radioterapeuta é fundamental para aumentar a conscientização sobre o papel crucial que esses profissionais desempenham no tratamento do câncer. Essa data ajuda a destacar a importância da radioterapia como uma das principais modalidades de tratamento oncológico, promovendo o reconhecimento dos profissionais que trabalham nessa área e incentivando o desenvolvimento contínuo da radioterapia no Brasil. Além disso, essa data pode servir como um momento para reflexão e discussão sobre os desafios e avanços na área, tanto para profissionais quanto para a população em geral.
No tripé do tratamento oncológico, como está posicionada a radioterapia?
A radioterapia ocupa um papel essencial dentro do tripé do tratamento oncológico, ao lado da quimioterapia e da cirurgia. Ela é uma modalidade de tratamento versátil que pode ser utilizada em diversas fases do tratamento oncológico, seja como monoterapia em casos específicos, como no câncer de próstata de baixo risco ou tumores iniciais de laringe, ou em conjunto com outras terapias para melhorar os resultados oncológicos. O uso de radioterapia neoadjuvante, adjuvante, concomitante com quimioterapia/terapias-alvo ou mesmo em contextos paliativos e oligometastáticos, destaca a sua importância no controle da doença e sintomas e, muitas vezes, na cura do câncer.
E no tratamento de câncer de cabeça e pescoço?
A radioterapia é uma modalidade fundamental no tratamento do câncer de cabeça e pescoço. Para pacientes com doença em estágio inicial ou para idosos, a radioterapia pode ser a única forma de tratamento necessária, com intenção curativa. Em casos de doença localmente avançada, a combinação da radioterapia com quimioterapia é um padrão de tratamento curativo. Além disso, a radioterapia é empregada no pós-operatório para reduzir o risco de recorrência tumoral e as chances de cura e, em situações paliativas, ajuda a controlar sintomas como dor e sangramento, proporcionando melhora na qualidade de vida dos pacientes.
Quais foram os principais avanços da radioterapia nos últimos anos na área de câncer de cabeça e pescoço?
Nos últimos anos, a radioterapia evoluiu significativamente, tanto em termos de tecnologia quanto de protocolos. A transição das técnicas de radioterapia bidimensional (2D) para 3D (conformada) e posteriormente para IMRT (modulação da intensidade do feixe de radiação) e VMAT (terapia de arco modulado volumétrico) permitiu maior precisão no tratamento, reduzindo a exposição de tecidos saudáveis à radiação e minimizando os efeitos colaterais. Ferramentas de IGRT (radioterapia guiada por imagem) têm melhorado ainda mais essa precisão, permitindo ajustes em tempo real durante o tratamento. A radioterapia adaptativa, que ajusta o plano de tratamento com base nas mudanças anatômicas do paciente, é outra inovação significativa que vem ganhando espaço, permitindo tratamentos ainda mais personalizados e eficazes.
Em sua opinião, quais são as perspectivas da radioterapia, especialmente para os pacientes com câncer de cabeça e pescoço?
As perspectivas para pacientes com câncer de cabeça e pescoço tratados com radioterapia são encorajadoras. As chances curativas mesmo em casos de doença localmente avançada são uma realidade. Além disso, os avanços tecnológicos têm permitido a redução de efeitos colaterais significativos, como xerostomia, trismo, fibrose cervical e mucosite, melhorando a qualidade de vida dos pacientes durante e após o tratamento.
Para a radioterapia e a profissão de radioterapeuta no Brasil, quais são os principais desafios?
Um dos principais desafios da radioterapia no Brasil é garantir que todos os pacientes tenham acesso a um tratamento de qualidade e no tempo correto. No Sistema Único de Saúde (SUS), muitos pacientes ainda enfrentam barreiras de acesso que podem atrasar o início do tratamento oncológico, impactando diretamente suas chances de cura. Segundo a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), aproximadamente 73 mil pacientes que necessitariam de radioterapia não a recebem. Além disso, a questão da sustentabilidade econômica do Sistema Único de Saúde (SUS) é crítica, uma vez que os valores de reembolso por procedimento não cobrem nem 50% dos custos reais do tratamento, colocando em risco a viabilidade dos serviços de radioterapia e, por consequência, o acesso dos pacientes ao tratamento necessário.
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