Na área de câncer de cabeça e pescoço, assim como para a oncologia de modo geral, a pesquisa clínica é um importante motor de avanço. Para os pacientes que têm oportunidade de participar de pesquisa clínica, isso constitui um benefício significativo porque eles têm acesso com segurança a terapias inovadoras, que só estarão disponíveis muito tempo depois.
Além de ter acesso de maneira segura a terapias inovadoras que podem contribuir para a evolução de seu tratamento, o paciente assume papel de protagonista do desenvolvimento científico que vai beneficiar todas as pessoas. Confira a seguir a entrevista com o Dr. Guilherme Harada, oncologista clínico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
O que é uma pesquisa clínica?
É um tipo de estudo científico realizado para avaliar novos tratamentos em termos de eficácia e segurança para os pacientes. Nas fases iniciais, o principal objetivo de uma pesquisa clínica é avaliar a segurança dos novos tratamentos e a melhor dose do medicamento. Nas fases subsequentes e finais, verificamos, principalmente, a eficácia dos tratamentos com as doses que foram analisadas nas etapas anteriores.
Em que fase do estudo clínico entra a participação de pacientes?
Os pacientes entram na fase clínica ou na pesquisa clínica propriamente dita. Antes, temos a fase pré-clínica em que os estudos são feitos com modelos celulares ou animais para a avaliação dos medicamentos ou tratamentos. Dessa forma, todos os tratamentos e medicamentos aplicados na fase clínica com a participação de pacientes passaram pela fase pré-clínica.
Qual é a importância da pesquisa clínica especificamente na área de câncer de cabeça e pescoço?
Primeiro é um recurso extremamente importante na Oncologia, em geral. É com base na pesquisa clínica que conseguimos avançar em efetividade e segurança de novos tratamentos. Em tumores complexos, como é o caso do câncer de cabeça e pescoço, os benefícios trazidos por esse tipo de pesquisa são ainda mais evidentes. São os estudos clínicos que nos ajudam a compreender como se comportam os diferentes tipos de tumores de câncer de cabeça e pescoço, informação essencial para tratar de modo mais assertivo os pacientes acometidos por essas doenças.
O que pode ser testado em uma pesquisa clínica?
A pesquisa clínica, em geral, testa algum tipo de intervenção. Essa intervenção, na maioria das vezes, é um medicamento. Mas pode ser um teste diagnóstico, um exame de imagem, entre outros. No caso de estudos relativos a tumores de cabeça e pescoço, as pesquisas costumam compreender novos medicamentos, novas indicações de medicamentos já existentes e, eventualmente, medicamentos já existente combinados a uma nova droga. Em qualquer situação, todo o trabalho é realizado de acordo com rígidos protocolos.
Em que momento a possibilidade de participar de uma pesquisa clínica deve ser considerada no caso de um paciente de câncer de cabeça e pescoço?
O paciente pode participar de uma pesquisa clínica em todas as fases da doença, desde o diagnóstico, com doença em fase inicial, até em situações em que a patologia está mais avançada e que o paciente já passou por diferentes tipos de terapia. Portanto a pesquisa clínica é uma possibilidade que pode ser considerada a qualquer momento da jornada do paciente. Para isso, a indicação é feita pelo médico do paciente e, além disso, é preciso que exista um protocolo de pesquisa disponível e adequado ao momento que o paciente está vivendo.
Quais são os detalhes da participação voluntária do paciente?
A indicação é feita pelos médicos e a decisão e participação do paciente são voluntárias. Tudo que envolve o tratamento – medicações, consultas, internações – é coberto pelo protocolo da pesquisa, que pode ser financiada por uma agência de fomento, um hospital, uma indústria. Da mesma forma que o paciente adere à pesquisa, ele é livre para deixá-la no momento que desejar, sem qualquer tipo de prejuízo.
A pesquisa clínica ainda é vista com um último recurso no tratamento de pacientes oncológicos?
Esse cenário ficou no passando, quando a pesquisa clínica oferecia poucas opções terapêuticas. Atualmente, como a Oncologia está cada vez mais personalizada, com tratamentos muito eficazes, há possibilidades de protocolos em todas as fases da jornada do paciente, desde a doença inicial até a avançada.
Em sua opinião, que motivos tem o paciente de câncer de cabeça e pescoço ou mesmo de outro tipo de doença oncológica para participar de uma pesquisa clínica?
A primeira e mais importante razão é a oportunidade de ter acesso a terapias inovadoras que estão disponíveis apenas nos protocolos desses estudos. São medicamentos que estão na fase clínica e já mostram potencial de proporcionar benefícios significativos no tratamento do paciente. Também é preciso considerar que é com base na pesquisa clínica que a Oncologia evolui. Portanto, ao participar de um desses estudos, o paciente também está ocupando papel de protagonista no avanço científico e ajudando outras pessoas a usufruírem no futuro de tratamentos mais eficazes, seguros e menos tóxicos.
Há algum tipo de risco na participação em uma pesquisa clínica?
A segurança durante um estudo clínico é prioridade máxima. Os participantes são acompanhados por diversas equipes que obedecem critérios rigorosos. Naturalmente, como todo tratamento, seja por meio de uma pesquisa clínica ou não, há riscos de eventos adversos associados. Na pesquisa clínica, há protocolos de segurança robustos que ajudam, inclusive, a detectar rapidamente um efeito adverso e tratá-lo de modo muito assertivo.
Há tipos diferentes de pesquisa clínica?
Temos vários tipos de pesquisas clínicas em relação à metodologia utilizada. Existem estudos clínicos em que todos os pacientes recebem o mesmo tratamento e os que aplicam tratamentos diferentes, a depender do grupo em que o paciente é alocado. Nesse último caso, por exemplo, o paciente pode receber a terapia que está sendo investigada ou o tratamento padrão já disponível.
Em alguns momentos, dependendo do estudo, o paciente pode receber placebo acompanhado do tratamento padrão. Em outros momentos, apenas placebo porque o padrão do tratamento referente ao momento que o paciente está vivendo é suspender o tratamento. Existem também os estudos duplo cego, em que os pacientes e a equipe de pesquisa não sabem quem está recebendo o tratamento ou o placebo. O importante é que o paciente nunca tem seu tratamento prejudicado ao participar de um estudo clínico.
Quais são suas recomendações a pacientes que tem a possibilidade de participar de uma pesquisa clínica?
É essencial solucionar todas as dúvidas com os médicos que acompanham o estudo. Entre as informações que o paciente deve saber estão: qual é a fase do tratamento; os dados preliminares da medicação; as alternativas de tratamento dentro e fora da pesquisa clínica. Importante ressaltar que o participante de um estudo clínico não é uma cobaia. Além de terem sido feitos muitos estudos na fase pré-clínica, toda pesquisa clínica segue normas éticas e regulatórias muito rigorosas e seu objetivo é buscar a melhor eficácia e segurança para os pacientes e aumentar o tempo de vida com a melhor qualidade possível.
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