top of page
gbcpcomunicacao

Medicina nuclear: importante aliada no diagnóstico e tratamento do câncer de cabeça e pescoço

A medicina nuclear ocupa lugar muito importante no diagnóstico e tratamento do câncer de cabeça e pescoço. Além do tratamento com iodo radioativo para o câncer de tireoide, a assertividade e a acurácia do exame de PET/CT pode auxiliar a localizar tumores de garganta que não são visíveis com os exames de imagem convencionais, verificar no corpo inteiro do paciente se há alguma metástase ou, no pós-tratamento, checar se o resultado esperado foi alcançado. Portanto, a especialidade é uma grande aliada dos pacientes acometidos por doenças oncológicas na região da cabeça e pescoço.


Dra Adelina Sanches

Dra Adelina Sanches, responsável técnica pelo Serviço de Medicina Nuclear da Santa Casa de Misericórdia da Bahia e diretora da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear


Sobre tema, conversamos com médica nuclear Adelina Sanches, responsável técnica pelo Serviço de Medicina Nuclear da Santa Casa de Misericórdia da Bahia e diretora da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN).

Confira a entrevista!


No câncer de cabeça e pescoço, qual é o papel da medicina nuclear?

A medicina nuclear está presente no diagnóstico e tratamento do câncer de cabeça e pescoço, com destaque para o câncer de tireoide. Não é exagero dizer que a medicina nuclear teve seu início com o tratamento de câncer de tireoide, com o iodo radioativo administrado por via oral. É um tratamento realizado há 80 anos. O iodo radioativo também pode ser utilizado para doenças não oncológicas da tireoide, como o hipertireoidismo. Há casos selecionados em que uso de iodo radioativo contribui para a glândula diminuir de tamanho e normalizar a produção excessiva de hormônio, sem necessidade de cirurgia.


O uso de iodo radioativo é seguro?

Na prática médica, o uso do iodo radioativo é muito seguro. Ele é sempre administrado por via oral e há normas e protocolos muito bem estabelecidos que evitam exposições desnecessárias e complicações. As doses de radiação para tratamento de um câncer de tireoide são maiores do que de uma doença benigna, mas sempre dentro de protocolos seguros para o paciente. É possível tratar o câncer primário de tireoide e também metástases, quando o tumor se espalhou para outros órgãos. De acordo com a legislação brasileira, a partir de determinada dose de iodo radioativo, o paciente deve ser internado e segregado do convívio de outras pessoas durante o tratamento para evitar contaminação. Nesse caso, há leitos especiais para o manejo e uso da radiação.


Além do câncer de tireoide, a medicina nuclear pode ser utilizada em outros cânceres de cabeça e pescoço?

A maior atuação é no câncer de tireoide, mas há outros tipos de câncer de cabeça e pescoço que se beneficiam da medicina nuclear, como os tumores de garganta - orofaringe, nasofaringe, laringe. Nesses casos, o PET/CT (tomografia por emissão de pósitrons), um exame de diagnóstico por imagem de corpo inteiro, com muita sensibilidade para detectar tumores, tem papel bem fundamentado em três diferentes cenários: descobrir a origem de tumores; estadiamento do câncer de cabeça e pescoço e no pós-tratamento. O exame está no rol da Agência Nacional de Saúde (ANS), portanto é coberto pela saúde suplementar.


Como é feito o exame?

Para a realização de um PET/CT, injetamos no paciente por via intravenosa, o radiofármaco FDG (sigla de Fluorodesoxiglicose). Simplificando, podemos dizer que o FDG é um açúcar radioativo. Os tumores precisam, muito mais do que as células sadias, de açúcar para crescer e se proliferar. É dessa forma que o FDG se liga aos tumores, emitindo sinais radioativos que são captados e visualizados em imagens detalhadas por meio do PET/CT.


Em que situações o PET/CT é indicado para auxiliar a descobrir a origem de um tumor?

Por exemplo, um paciente que aparece com um gânglio no pescoço, faz uma biopsia que revela um câncer do tipo carcinoma espinocelular (CEC). Agora, é preciso descobrir a origem desse tumor. Para isso, o paciente faz os exames de imagem convencionais, como tomografia, ressonância ou laringoscopia, que consiste em uma minicâmera introduzida pela boca para que o médico possa observar a garganta por dentro. Se mesmo com esses exames, a origem do tumor não é localizada, é o momento de usar o PET/CT. Esse exame de medicina nuclear tem um poder muito grande para localização de tumores. Ele é feito de corpo inteiro e em um caso de câncer de garganta, adicionamos imagens especiais da região.


E no estadiamento? Como é utilizado o PET/CT?

É muito comum que pacientes de câncer de cabeça e pescoço sejam fumantes, uma vez que o tabagismo está entre os principais fatores de risco para a doença. A dependência da nicotina dificulta muito que esses pacientes parem de fumar, mesmo durante o tratamento, aumentando ainda mais o risco de desenvolverem outras neoplasias. Também são pacientes que costumam ser diagnosticados já com doença avançada. O benefício do PET/CT para esses pacientes é a possibilidade de fazer o que chamamos de estadiamento bem-feito, ou seja, avaliar com muita acurácia o grau de disseminação do tumor. Com o exame de corpo inteiro do PET/CT é possível saber se há mais doença ou não. Essa informação é fundamental para planejar o tratamento do paciente.


E porque fazer um PET/CT no pós-tratamento?

Essa é uma indicação relativamente recente. São casos de pacientes com tumor de cabeça e pescoço tratados com radioterapia, quimioterapia e cirurgia, combinados ou individualmente. Concluído o protocolo terapêutico indicado para o paciente, o PET/CT pode ser utilizado para verificar se as lesões foram bem tratadas, ou seja, se o resultado esperado foi alcançado. Essa prática começou a ser adotada porque o PET/CT tem uma sensibilidade muito grande para negar a presença da doença, maior que os exames convencionais. Para se ter uma ideia da importância dessa informação, há um estudo científico que mostra que quando o resultado do PET/CT é negativo após o tratamento, o paciente oncológico não precisaria fazer a cirurgia de esvaziamento cervical programada previamente.


Além do FDG, existem outros radiofármacos que podem ser utilizados em um exame de PET/CT?

Para tumores de cabeça e pescoço, disparadamente o PET/CT com FDG é o mais utilizado hoje. Recentemente, foram liberados radiofármacos para neoplasias neuroendócrinas, o DOTA – galio68 e o DOTA-lutécio. No entanto, tumores neuroendócrinos na região da cabeça e pescoço são raros. A localização mais comum desse tipo de tumor é na região do abdômen. Ainda neste ano, devem chegar radiofármacos direcionados a fibroblastos, que são células do estroma, um tecido vascularizado que dá suporte nutritivo e de sustentação a órgãos, glândulas etc. Os pesquisadores descobriram que quando um câncer se desenvolve em uma determinada região do corpo, os fibroblastos ficam alterados. Portanto, com o PET/CT e esse novo marcador será possível localizar fibroblastos alterados no caso de câncer de cabeça e pescoço, auxiliando no diagnóstico e tratamento.

bottom of page