Um estudo clínico de fase 3 publicado pelo Grupo de Oncologia e Radioterapia de Cabeça e Pescoço (GORTEC) mostra o impacto positivo do suporte nutricional nas taxas de sobrevida em três anos de pacientes com diagnóstico de câncer de cabeça e pescoço de células escamosas localmente avançado. A sobrevida global foi de 81% entre os que receberam a fórmula imunomoduladora.
Entre os controles, a taxa foi de 61%. A conclusão é do estudo A double-blind phase III trial of immunomodulating nutritional fórmula during adjuvant chemoradiotherapy in head and neck cancer patients: IMPATOX, publicado na revista científica The American Journal of Clinical Nutrition.
Em formato duplo cego, foram incluídos 180 pacientes com indicação de quimiorradioterapia adjuvante (após a cirurgia), com intenção curativa. Entre novembro de 2009 e junho de 2013, os participantes foram aleatoriamente designados para receber suplementação oral de uma fórmula enriquecida com l-arginina, ácidos graxos ômega-3 e ribonucleicos (braço experimental) ou um isocalórico controle isonitrogênio (braço de controle), por cinco dias, antes de cada um dos três ciclos de cisplatina.
Este estudo é o primeiro ensaio clínico multicêntrico de fase III e randomizado que
avalia a administração de imunonutrientes orais durante a quimiorradioterapia em pacientes com câncer de cabeça e pescoço. O desfecho primário (primeiro objetivo do estudo) foi avaliar a eficácia dos imunonutrientes na redução de mucosite grave. Já os objetivos secundários foram avaliar a tolerância, conformidade, atrasos e necessidade de interrupções da terapia, assim como a sobrevida livre de progressão (PFS) e sobrevida global (OS) em um, dois e três anos.
Embora o desfecho primário não tenha apresentado significância estatística (um mês após o término da quimiorradioterapia – CRT não foram observadas diferenças na incidência de mucosite de graus 3-4 entre os grupos avaliados); houve a boa notícia de melhora significativa de sobrevida global em três anos no grupo que recebeu a fórmula imunomoduladora. Enquanto o grupo controle registrou sobrevida livre de progressão de 50% e sobrevida global de 61%, entre os pacientes que receberam imunonutrientes as taxas foram, respectivamente, de 73% e 81%.
Perfil nutricional e resposta imunológica
Ao avaliar a pesquisa, a nutricionista oncológica e membro do GBCP, Olívia Galvão De Podestá, destaca que o ponto trazido pelos pesquisadores do GORTEC foi a evidência de que o paciente se beneficia de uma abordagem precoce de suporte nutricional. “Incluir imunonutrientes na dieta do paciente melhora seu estado nutricional e aumenta sua resposta imunológica. O acompanhamento nutricional faz a diferença no cuidado ao paciente oncológico, em especial entre os de Cabeça e Pescoço”, ressalta Olívia.
A nutricionista chama a atenção, por sua vez, para limitações do trabalho. “O resultado relevante foi observado em relação à sobrevivência dos pacientes, mas este não foi o desfecho primário em avaliação. Embora a informação sobre melhora de sobrevida seja relevante, devemos avaliar os resultados com cautela”, ressalta. Como próximo passo, os autores realizam um estudo auxiliar, que visa explorar os fatores relacionados com a aceitação dos pacientes à suplementação oral e potenciais indicações de formas alternativas de suporte nutricional.
Referência do estudo
Boisselier P, Kaminsky MC, Thézenas S, Gallocher O, Lavau-Denes S, Garcia-Ramirez M, Alfonsi M, Cupissol D, de Forges H, Janiszewski C, Geoffrois L, Sire C, Senesse P; Head and Neck Oncology and Radiotherapy Group (GORTEC). A double-blind phase III trial of immunomodulating nutritional formula during adjuvant chemoradiotherapy in head and neck cancer patients: IMPATOX. Am J Clin Nutr. 2020 Dec 10;112(6):1523-1531.
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