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Cirurgia Robótica para o tratamento do câncer de cabeça e pescoço

A cirurgia robótica também faz parte do cenário das cirurgias de câncer de cabeça e pescoço, especialmente no tratamento de tumores iniciais da orofaringe, como também de laringe, glândulas salivares e tireoide.



Mas é preciso selecionar bem os casos que podem ser beneficiados por essa tecnologia, alerta Dr. Renan Lira, titular do departamento de Cirurgia Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo Cancer Center, coordenador da Pós-Graduação em Cirurgia Robótica de Cabeça e Pescoço do Hospital Albert Einstein e membro do GBCP. Confira a entrevista com o especialista.


Como é o cenário da aplicação da tecnologia robótica na cirurgia de câncer cabeça e pescoço?

Dr. Renan Lira: A cirurgia robótica é uma subespecialidade que vem ganhando espaço importante em diversas especialidades cirúrgicas. Hoje, boa parte das cirurgias urológicas, coloproctologias e ginecológicas são feitas com técnica robótica. No caso das cirurgias de câncer de cabeça de pescoço, a adoção do robô está acontecendo um pouco mais devagar, em parte, porque não estamos lidando com uma cavidade, como o abdômen e o tórax. Nossa especialidade trata da regiões da face, fossas nasais, seios paranasais, boca, faringe, laringe, tireoide, glândulas salivares, dos tecidos moles do pescoço, da paratireoide e tumores do couro cabeludo. No entanto, há algumas situações em que a técnica robótica ocupa espaço de tratamento padrão, sendo considerada o melhor tipo de cirurgia para determinados tumores de cabeça e pescoço.

Que tumores são esses?

Há casos de tumores de orofaringe e de laringe supraglótica, por exemplo, em que a cirurgia robótica é considerada a melhor alternativa por ser menos invasiva e proporcionar menos morbidade e melhores resultados funcionais. No câncer de orofaringe, a cirurgia robótica mostra uma taxa de cura um pouco maior comparada a da cirurgia convencional. Também no câncer de glândulas salivares e de tireoide com esvaziamento cervical, procedimento que previne e erradica metástases nos linfonodos da região do pescoço, o robô pode trazer vantagens em termos de resultados funcionais e estéticos. Com o robô, o paciente não terá uma cicatriz na frente do pescoço, ela fica escondida atrás da orelha, dentro do cabelo. No caso de uma cirurgia de tireoide, também é possível fazer o acesso pela face interna do lábio do paciente.


A utilização de técnicas robóticas é a melhor opção para todos os casos de câncer de tireoide, orofaringe, laringe e glândulas salivares?

Não. Os benefícios para esses tumores são para casos bem selecionados. Em linhas gerais, a técnica robótica se aplica a tumores iniciais, menores e bem localizados. Para doença avançada, com tumores muito grandes, a cirurgia convencional ainda é a melhor opção. Além de avaliar a fase de desenvolvimento da doença, é fundamental considerar características específicas do paciente.


Por que a cirurgia robótica não é a opção mais indicada no caso de doença avançada?

O robô é uma ferramenta cirúrgica, altamente tecnológica, que traz várias vantagens técnicas para qualquer cirurgia, como a visão magnificada, imagem em 3D, movimentos mais precisos, mais delicados, elimina a possibilidade do tremor do cirurgião. Mas, apesar de versátil, o robô também tem limitações no que diz respeito a espaço e aplicabilidade no corpo humano. Por exemplo, se você tem um tumor que invade o osso, o robô não tem uma ferramenta que consiga fazer a ressecção nessa região. Outro ponto importante diz respeito a tumores avançados em que uma cirurgia minimamente invasiva com acesso pela boca, utilizando o robô, não trará qualquer benefício em relação a uma cirurgia convencional. Independentemente do método utilizado, a sequela será grande para o paciente.



Em sua opinião, a quebra de patente do robô Da Vinci e a entrada de novas plataformas no mercado resultam em benefícios ou em maior acessibilidade à tecnologia?

Ainda é cedo para termos benefícios concretos. O que vemos é um número muito grande de empresas querendo entrar nesse mercado, desenvolvendo sistemas robóticos diferentes, muitos deles específicos para determinados procedimentos. Por exemplo, robôs especializados em prótese de quadril, prótese de joelho, cirurgias endovascular, endoscópicas e colonoscópicas. Essas plataformas estão sendo desenvolvidas na Europa, Ásia e Estados Unidos. No Brasil, o que temos de concreto, além do robô Da Vinci, são duas novas plataforma robóticas, o Versius, da inglesa CMR Surgical, e o Hugo RAS, da norte-americana Medtronic. As três são muito parecidas em termos de aplicabilidade. Mas acredito que, no futuro, a tendência de especialização dos robôs vai se aprofundar e, possivelmente, teremos plataformas para cirurgias de tireoide, de garganta, entre outras. Com relação ao valor financeiro da cirurgia, o custo vem caindo, mas para a realidade brasileira ainda representa uma barreira para a maioria da população. Vale lembrar que a cirurgia robótica não está no rol da Agência Nacional de Saúde (ANS), portanto, não tem cobertura das operadoras de saúde e no Sistema Únicos de Saúde (SUS) há pouquíssimos robôs.


Em sua opinião, qual o impacto da tecnologia robótica na atuação do cirurgião?

O robô é um computador muito poderoso, uma ferramenta que fica ali entre o cirurgião e o paciente. A plataforma robótica permite, inclusive, agregar outras tecnologias como o machine learning (aprendizado de máquina), a inteligência artificial, a realidade aumentada. Portanto, no futuro, cada vez mais o termo cirurgia digital vai se consolidar. Tudo isso vai auxiliar durante o procedimento, mas nada substitui a experiência do cirurgião para o melhor resultado para o paciente.

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