A avaliação geriátrica seguida de manejo de idosos se mostrou custo-efetiva para pacientes com câncer tratados com intenção curativa, mas não paliativa.
Este é o principal resultado do estudo multicêntrico e internacional Cost-Utility Analysis of Geriatric Assessment and Management in Older Adults With Cancer: Economic Evaluation Within 5C Trial publicado no Journal of Clinical Oncology (JCO).
O estudo é tema do episódio 17 do Conexão Cabeça e Pescoço, podcast em formato de pílulas de conhecimento do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP).
O estudo reúne 350 participantes, dos quais 173 receberam avaliação geriátrica e manejo (GAM) e 177 receberam os cuidados habitais, não especializados em geriatria.
A avaliação geriátrica é uma abordagem recomendada pelas diretrizes para otimizar o manejo do câncer em idosos. Neste trabalho, foi conduzida uma análise de custo-utilidade juntamente com o ensaio clínico randomizado 5C para comparar a avaliação geriátrica e o manejo (GAM) mais os cuidados habituais (UC) com a UC isoladamente em idosos com câncer.
A avaliação econômica, realizada a partir da perspectiva da sociedade e dos pagadores de cuidados de saúde, teve a duração de 12 meses. Considerando uma perspectiva social, os custos médios totais (em dólares canadenses de 2021) por paciente foram de US$ 46.739 e US$ 45.177 para GAM e UC, respectivamente. Com um limite de custo-efetividade de US$ 50.000/QALY, o GAM não foi custo-efetivo em comparação com o UC. O benefício monetário líquido incremental (INMB) foi positivo, com 72% de probabilidade de ser custo-efetivo para pacientes tratados com intenção curativa, mas permaneceu negativo para pacientes tratados com intenção paliativa. Os resultados foram semelhantes considerando a perspectiva do pagador de cuidados de saúde. O GAM, portanto, foi custo-efetivo para pacientes com câncer tratados com intenção curativa, mas não paliativa.
Convidado para comentar os resultados ao GBCP, o médico geriatra Gabriel Truppel Constantino, do A.C.Camargo Cancer Center, observa que essa abordagem é importante pelo fato de os tratamentos estarem ficando cada vez mais caros e mais modernos, com as indicações precisando ser cada vez mais precisas. “É aí que entra a avaliação geriátrica no paciente oncológico. A ideia é que com uma avaliação geriátrica bem feita, os recursos sejam melhor alocados. Os pacientes que têm mais reservas funcionais acabam tendo uma indicação de tratamento mais intenso, enquanto pacientes mais frágeis teriam uma reserva menor e tratamentos mais adaptados, ou mesmo até uma indicação de best supportive care”, detalha Constantino.
Em sua análise, Gabriel Truppel observa que o objetivo primário era avaliar se o manejo geriátrico influenciava na qualidade de vida. “E esse objetivo primário não foi atingido. Não teve uma significância estatística, mas eram 350 pacientes divididos nesses dois grupos: um grupo submetido à primeira avaliação geriátrica e depois discussão em tumor board, e o manejo era auxiliado por geriatra e por enfermeira. Eram pacientes ECOG 0 a 2, com mais de seis meses de expectativa de vida pela avaliação oncológica inicial. Então, não eram pacientes necessariamente em fim de vida”, explica.
Outra ressalva feita por Constantino é quanto ao fato que, em estudos de oncogeriatria que consideram populações gerais, há uma variação muito grande também de tipo de tumor. “Em 150 pacientes em cada perna, você acaba tendo muitos perfis diferentes, e aí é muito complicado fazer a comparação. Mesmo que eles tentem balancear isso, o paciente com câncer hematológico é diferente do doente com tumor sólido, assim como um câncer de cabeça-pescoço é diferente do câncer colorretal. Então, se perde um pouquinho também em precisão”, avalia.
Toda a temática também foi comentada em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o podcast, em formato de pílulas, do GBCP.
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